quarta-feira, 28 de julho de 2010

Capitulo Três: Quando o ruim se torna pior

Se a situação parecia estranha e confusa ao amanhecer, John não poderia expressar com palavras o grande amontoado de pensamentos que ocupavam sua mente naquele instante. A policia estava em sua porta, acusando-o, com certa razão, de dar abrigo a uma acusada de espionagem comercial.

Primeiro se dera conta de que não se lembrava de praticamente nada de suas experiências na noite anterior, por ter visivelmente abusado das bebidas alcoólicas e também por ter experimentado, juntamente com Giulliana, as sensações que o liquido vermelho poderia causar.

Num segundo momento, percebeu que seu leito era dividido por uma maravilhosamente bela mulher, que fitava-o com os olhos mais belos que ele jamais vira em toda sua vida. No entanto ela estava visivelmente morta, causando-lhe maior confusão e arrepios de medo e culpa.

E numa reviravolta estranha, digna de um delírio etílico, a dama beijada pela morte mostrou-se tão ou mais viva do que ele próprio. Levantara-se, enquanto pedia a ele que não chamasse a policia nem tomasse medidas precipitadas.

Agora que tudo parecia prestes a ser explicado, ele recebia mais um soco no estomago, percebendo que além de ter talvez entregue seu maior segredo a ela, a policia poderia prendê-lo por cumplicidade com Giulliana. Se isso acontecesse, seu projeto estaria realmente correndo risco de ser perdido.

Olhou espantado e ao mesmo tempo irritado para Giulliana, num questionamento silencioso sobre os motivos de tudo aquilo. Ele não imagina que ela estava sendo procurada pela policia e agora ela estava ali, em sua porta. Ela olhou para ele com calma e então sussurrou, tentando evitar ser ouvida pela policia:

- O que eu tentava explicar é que, depois daquela reunião, fui procurada pelos homens que me ameaçaram, que estavam à procura de novas informações sobre seus projetos. Eles estão me ofereceram um novo trabalho e disseram que se eu o fizesse, além da segurança de meu irmão, eu poderia receber muito dinheiro.

- E qual era esse ultimo trabalho?

- Era seduzi-lo para que você aceitasse fazer um contrato de exclusividade com eles, para que suas descobertas fossem exploradas apenas por eles e por ninguém mais. Eu sabia que você não aceitaria, mas não tinha escolha. Tinha a certeza que se negasse a tarefa eles matariam meu irmão e eu também.

- Então tudo isso foi parte de uma jogada para conseguir tirar informações de mim? E eu cai totalmente.

- Não! Eu disse que aceitava, mas internamente eu tinha a convicção de que você me ajudaria de alguma maneira. Eu não poderia traí-lo novamente.

- Mas porque você sentiu remorso? Com toda a certeza você ficaria rica!

- Sim. Mas isso não seria correto. Tudo o que fiz, e tenha a certeza, eu me sinto envergonhada de tudo isso, foi por querer garantir a segurança de meu irmão. No entanto me dei conta que isso nunca teria fim se você não soubesse o que estava acontecendo. Além do mais, sua atitude de manter publico o estudo, mesmo após ofertas enormes de dinheiro me fez repensar os meus conceitos.

- Certo. Isso não faz sentido, mas é um começo. Mas por que você está sendo procurada pela policia na minha casa? Você está envolvida em denuncias de espionagem, eu sei disso, mas de todos os lugares, o mais improvável para você estar é comigo, certo?

- Talvez os homens que tentaram conseguir os segredos industriais tenham ficado descontentes por eu não ter lhes enviado o relatório como deveria, ontem à noite, e tenham decidido me prejudicar de todas as maneiras possíveis.

- Daremos um jeito de resolver essa situação. Agora eu preciso pensar em um jeito de fazer com que a policia vá embora sem lhe prejudicar.

- Eu não tenho medo de morrer, John. Eu temo pelo meu irmão. E eu temo por você.

Confuso, John se deu conta de que ele, mesmo de forma indireta, tinha causado aquela situação. Ao dar a Giulliana a oportunidade de experimentar o liquido vermelho, ele fez com que ela não tivesse como se comunicar com o homem que lhe enviara até ali e por isso ele devia ter decidido acabar com o jogo.

- Mas como ele descobriu que você estava aqui? Tenho certeza de que você não entrou em contato com ninguém após ter chegado aqui.

- Você mesmo se entregou ao ligar para a policia, em pânico, quando me encontrou aqui. Com toda certeza eles tem alguém infiltrado na policia e então ligaram os fatos. Eu estou com medo, John.


Emocionado e sentindo-se como há muito tempo não se sentia, John aproximou-se devagar, olhando para os olhos azuis com um encanto que não parecia abalado pelas batidas cada vez mais fortes na porta. Segurou levemente suas mãos e então deixou que o momento se extravasasse em um beijo doce e suave.

O sabor daquele beijo lembrou-lhe outro, que ficara esquecido por anos, durante seu isolamento da vida social, onde prendera-se somente ao estudo e a busca da cura do câncer. Depois de tudo que passara, parecia que aquele beijo doce, que nascera no momento de maior confusão de sua vida, libertava-o da dor que trazia consigo há tanto tempo.

Em sua memória vinha somente a imagem daquela que lhe dera o ultimo beijo que ele provara até aquele instante. Giovanna, sua noiva, era tão bela quando aquela que estava ali com ele agora, porém não era tão saudável. Na verdade, seu corpo às vezes estava tão frágil, que sua saúde vivia em um mar de altos e baixos. Seus cabelos negros, lisos, contrastavam fortemente com sua pele alva e suave. Sua voz era alta e estridente, mas tinha uma beleza que ele nunca percebera em outra pessoa. Da amizade ao amor foram apenas semanas e logo eles estavam noivos, diante de uma sociedade espantada.

Giovanna era enfermeira do hospital onde fizera sua residência e logo ele, o grandioso médico e cientista, filho de uma das mais nobres famílias dos Estados Unidos, se viu apaixonado por ela. Foram felizes por um ano e meio, quando ela lhe deu a noticia de que estava grávida. Para John, aquele foi o momento mais feliz de sua vida.

No entanto, antes que sua felicidade se fizesse maior e mais real, Giovanna teve um aborto motivado por um acidente de trabalho e ficou ainda mais frágil. No entanto, como se descobriu depois, esse não foi o verdadeiro motivo de sua fragilidade.

Um exame mais aprofundado descobriu que em seu organismo se encontrava um câncer em estado bastante avançado, que se desenvolvera muito mais rápido do que o normal.

De um dia para o outro, John percebeu que ela ficava cada vez mais fraca e triste. A doença viera rápida e fatal e em menos de meses, ela estava ali, morta, diante de um John estático e deprimido. Sua perda havia sido o marco inicial das pesquisas e sua motivação constante, dia após dia, ano a ano. E agora, que tudo parecia prestes a dar certo com seu experimento, sua vida dava uma reviravolta tão grande.

Afastou-se de Giulliana, decidido a abrir a porta e tentar esclarecer o mal-entendido com a policia, para que isso não afetasse a imagem publica que ele tentava proteger, para que a credibilidade do estudo não fosse questionada e talvez o mais importante, para que ela não fosse prejudicada de forma alguma, pois percebeu que ela era talvez a pessoa que chegara mais perto de fazer com que ele voltasse a viver como antes.

Ao abrir a porta, tudo tomou um rumo diferente do que ele planejara. Os homens não estavam fardados e muito menos pareciam com policiais de verdade. Armas em punho, pareciam assassinos prontos a abater suas vitimas, sem remorso.

John tentou argumentar, mas foi empurrado para longe. Gritou para Giulliana que corresse e tentasse fugir, mas recebeu um murro no rosto, que o atingiu com tamanha força que ele caiu atônito ao chão. Tentou levantar, mas as pernas doíam e ele se sentia desorientado.

Os homens entraram na casa e antes mesmo que ele pudesse reagir, um tiro se fez ouvir e Giulliana caiu no chão, seu sangue manchando o belo vestido branco que vestira enquanto John fora até a porta. De sua garganta se fez ouvir um grito de dor e de medo e então se fez o silencio. Os homens se aproximaram de John e o atacaram com a arma.

John, cheio de dor e de raiva, preocupado com Giulliana, tentou atacá-los com uma estatueta de pedra que estava próxima dele, mas foi atingido por uma coronhada na nuca.

Sentiu uma intensa dor em sua cabeça e caiu desacordado.

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